terça-feira, 13 de março de 2012

Atividades para o Ensino Fundamental II 6º ao 9º ano


Proposta de atividade para Ensino Fundamental – 6º ao 9º ano


Ao professor do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, recomendamos também a leitura do item "Atividade: para iniciantes", pois os princípios de trabalho lá expostos são válidos aqui também.

Podemos considerar diversas formas de tratar a interdisciplinaridade no contexto da sala de aula, desde o trabalho com duas disciplinas que se inter-relacionam em função de um tema de estudo, até a organização de todo currículo a partir de projetos interdisciplinares, desafio que ainda não foi vencido pelos educadores.

Um professor de Língua Portuguesa e um de História podem desenvolver um trabalho interdisciplinar envolvendo a Grécia Antiga e o surgimento da narrativa épica. Nessa proposta, os alunos estudam as características da sociedade que deu origem à idéia de democracia e deixou como herança cultural à humanidade as narrativas épicas, com suas características textuais que perduram até hoje nos textos modernos. Utilizando conhecimentos históricos sobre a Grécia Antiga, os alunos podem, então, ser desafiados a criar personagens e escrever histórias cujo enredo se desenvolve nesse local e as situações vividas pelos protagonistas dizem respeito àquele contexto. 



Os professores de Português e de Ciências podem desenvolver, com turmas do 6º ao 9º ano, um projeto de redação de um "dicionário de conceitos de Astronomia". Enquanto, em Língua Portuguesa, os alunos estudam as características do texto enciclopédico e a forma como os verbetes de uma enciclopédia são redigidos; em Ciências, os estudos sobre sistema solar, movimentos terrestres de translação e rotação, origem e formação do universo e do sistema solar dão origem aos conceitos que serão escolhidos para ser verbetes do dicionário.
O ensino desenvolvido a partir de problematizações, nas quais os alunos são levados a refletir sobre questões provocadoras, que os instigam a pensar, é uma boa maneira de desencadear o trabalho interdisciplinar em sala de aula.
O trabalho com os temas transversais, particularmente, pode contribuir com o desenvolvimento de uma abordagem interdisciplinar do ensino, porém, não deve ser confundida com este.

Um professor de Matemática do 6º ao 9º ano, por exemplo, pode 



ensinar seus alunos a transformar tabelas em gráficos utilizando como ponto de partida tabelas preenchidas apenas com números puros, sem referência a nenhum objeto ou unidade de medida. Porém, essa mesma aula para ensinar a fazer gráfico, pode ser proposta a partir de uma discussão sobre a questão racial no Brasil, desenvolvida a partir de uma pesquisa de opinião, publicada em revista, e que mostra os dados por meio de tabelas.

Neste caso, o professor de Matemática, não só apresenta as tabelas/gráficos, mas contextualiza esses conteúdos, discutindo temas como Ética e Pluralidade Cultural (temas transversais PCNs/MEC) e instiga seus alunos a pensarem como um gráfico pode nos auxiliar na compreensão de questões sociais como, por exemplo, o racismo.

Na apresentação dos temas transversais, encontramos pontos esclarecedores sobre o assunto:


·           "A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzido por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles - questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu".
·           "A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E a uma forma de sistematizar esse trabalho e incluí-lo explícita e estruturalmente na organização curricular, garantindo sua continuidade e aprofundamento ao longo da escolaridade".
·           “Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-relações entre os objetos de conhecimento, de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida”. 
·           A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos".
Com o título "A água que utilizamos em casa e na escola" professores de 6º ao 9º ano podem desenvolver um trabalho interdisciplinar envolvendo Ciências (Biologia, Meteorologia e Física) e Geografia.
·           De onde vem a água que utilizamos em nossa escola?
·           Essa água é tratada ou vem da fonte direto para a torneira?
·           Existem reservatórios de água no caminho entre a fonte e a escola?
·           Qual o estado de conservação do ambiente no local em que a água que utilizamos é obtida?
·           Existem evidências de contaminação de mananciais no local onde essa água é obtida?
A partir de questões como essas os alunos podem começar a desenvolver estudos que envolvam o ciclo da água, a relação entre ele e a disponibilidade de água para o abastecimento da cidade; o relevo da região e a presença de rios, lagos e nascentes que sejam mananciais a serem utilizados pela população; a necessidade de conservação ambiental em regiões onde estão presentes os mananciais. Nos casos de cidades grandes, há várias outras questões que podem ser acrescentadas. Por exemplo, quanto de energia elétrica a cidade gasta para tratar e bombear toda a água necessária à população? No caso do município de São Paulo, a quantidade de energia elétrica gasta com o tratamento e a distribuição de água é maior do que a quantidade de eletricidade gasta para iluminar a cidade. 
Um trabalho como esse pode ser ainda enriquecido com questões relacionadas ao tema transversal meio ambiente. Os alunos podem começar a refletir sobre o fato de que questões ambientais são complexas e não podem ser resolvidas com uma decisão simples, mas necessitam escolhas e concessões nem sempre fáceis de fazer. Outro aspecto que também deve ser tratado em um trabalho como esse é a postura dos indivíduos e sua relação com os problemas sociais. Neste exemplo, a consciência que cada um deve ter de que a água potável é cara e deve ser economizada da melhor forma possível. Neste caso, evitar o desperdício é, antes de tudo, demonstrar que se tem consciência social sobre o problema.

A presença de outras disciplinas no trabalho pode ser adotada pelos professores da escola em que ele está se desenvolvendo. Em Língua Portuguesa, pode-se ensinar aos alunos a redigir textos argumentativos; em História, pode-se fazer uma pesquisa sobre a história da construção do sistema de abastecimento de água na cidade e as lutas sociais que foram necessárias para que a população fizesse essas conquistas.
De qualquer forma, é importante lembrar, que o planejamento de um trabalho como esse deve ser feito coletivamente, envolvendo os professores que irão desenvolver as atividades em sala de aula. Um projeto de trabalho elaborado pela coordenação pedagógica da escola e imposto aos professores como meta a ser atingida, geralmente, resulta em uma atividade pedagógica burocrática, feita só para “cumprir as obrigações", e perdendo a principal característica que um trabalho interdisciplinar deve ter: dar aos alunos sentido ao esforço de aprender.
                                                                              Texto original: Vinicius Signoreli





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