Proposta de atividade para o Ensino
Médio
Ao professor de Ensino Médio, recomendamos a leitura dos itens
"Atividade: para iniciantes" e "Atividade: para quem já
conhece", pois os princípios de trabalho expostos nesses textos são
válidos aqui também.
No Ensino Médio, a discussão sobre a interdisciplinaridade não pode prescindir de uma reflexão anterior que trate das relações, e das condições de trabalho dos educadores desse segmento da educação básica.
É no
currículo do Ensino Médio que a distribuição dos conteúdos escolares mais se
aproxima das disciplinas acadêmicas tradicionais: Língua Portuguesa,
Literatura, História, Geografia, Biologia, Física, Química, Filosofia, Educação
Física, Língua Estrangeira. Essa distribuição de conteúdos reforça ainda mais a
tendência de compartimentalizar o conhecimento, já presente no Ensino
Fundamental. O desenvolvimento isolado do ensino das diversas disciplinas
escolares torna-se um problema ainda maior no Ensino Médio quando vemos as
condições de trabalho que a maioria dos professores enfrenta. Falta de tempo
para preparação adequada das aulas, principalmente, falta de uma estrutura de
organização dos horários escolares que permita aos professores um trabalho em
equipe, única forma de desenvolver planejamentos conjuntos que levem a uma
prática pedagógica interdisciplinar.
A preocupação em desenvolver uma prática pedagógica interdisciplinar, na
qual os alunos sejam levados a refletir sobre o conhecimento que constroem em
atividades de aprendizagem significativas, não pode estar isolada da idéia de
que a unidade escolar deve se constituir em uma comunidade de construção de
saberes, na qual educadores, alunos e seus familiares compartilhem objetivos e
respeitem-se mutuamente.
Dizendo de outro modo, é difícil acreditar que a interdisciplinaridade é
um remédio para os males da educação escolar e, muito menos, que deva ser
administrada pela força de decretos e determinações hierárquicas.
Por outro lado, nós professores de Ensino Médio, não podemos ficar de
braços cruzados diante de uma realidade educacional que nos desagrada, pois
precisamos, e temos como obrigação profissional, descobrir, entre outras
coisas, novas formas de trabalhar os conteúdos escolares em sala de aula.
Na história
recente de nosso país, após o final da ditadura militar iniciada em 1964,
vários municípios e até estados brasileiros tiveram governos progressistas, que
nomearam professores como secretários de educação. Mas, infelizmente, esses
ex-professores, que reivindicavam uma escola melhor, muitas vezes
interdisciplinar, antes de assumirem seus cargos políticos, não conseguiram
formular propostas que concretizassem seus ideais educativos.
Por todos esses motivos, a transformação de nossa escola em direção aos ideais de formação de cidadãos
conscientes, que compreendam o mundo em que vivem e que possam desenvolver um
caminho pessoal de inserção social e profissional, passa, necessariamente, pela
ousadia de educadores que, mesmo nas condições mais adversas, formulem
propostas de trabalho que colaborem com essa transformação.
O desenvolvimento de propostas pedagógicas pluri ou interdisciplinares
(sobre esses termos, veja o texto "Para entender") no Ensino Médio
pode ter origem em colaborações e parcerias entre professores de disciplinas
afins. O professor de Física pode planejar, em conjunto com o professor de
Geografia, estudos sobre meteorologia, clima, fenômenos atmosféricos e correntes
marinhas.
Alguns professores podem achar que isso é pouco. Porém, veja o que pode
ocorrer quando não existe esse tipo de diálogo entre os professores. Alunos do 6º ano do Ensino Fundamental terminam o ano letivo sem saber se as camadas da
Terra são crosta, manto e núcleo, como diz o professor de Ciências, ou
atmosfera, hidrosfera e litosfera, como ensina o professor de Geografia.
Essa contradição entre linguagens e conceitos é muito comum em nossas
escolas. Professores de Biologia usam terminologia contraditória com a
utilizada pelos professores de Química, quando estão tratando da bioquímica no
metabolismo humano. Professores de História, em geral, têm uma visão distorcida
sobre o conceito de evolução em Biologia, tomando mesmo, em alguns casos, uma
posição "antievolucionista".
Outro aspecto do trabalho pedagógico interdisciplinar está relacionado à postura dos professores perante os conhecimentos relativos a cada
disciplina. Só para citar um exemplo para reflexão de todos os professores de
Ensino Médio: é comum professores de áreas como História, Língua Estrangeira ou
Filosofia assustarem-se com a lousa cheia de fórmulas e contas relativas a uma
aula de Física ou Matemática que os alunos acabaram de ter. Freqüentemente,
referem-se a esses conhecimentos de forma desdenhosa, dizendo frases como
"Nossa, não sei nada de Física", ou "Não sei como alguém pode
compreender isso".
Professores
que tomam essa postura diante de seus alunos, certamente, não têm consciência
do péssimo exemplo que estão deixando para eles. Esses jovens, na verdade têm
que responder pela aprendizagem de todos os
conteúdos escolares, sejam eles de
Língua Portuguesa, Inglês, Física, Química, ou História. Essa postura
profissional pode indicar aos alunos que, na realidade, não saber nada desta ou
daquela disciplina talvez não seja algo tão ruim assim, já que até seus
professores têm essas características.
O desenvolvimento de propostas interdisciplinares no Ensino Médio, assim
como no Fundamental, pode se dar segundo as orientações dos Temas Transversais
presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais do 6º ao 9º ano, e que foram
comentados no item "Atividade: para quem já conhece".
A proposta
dos PCN para o Ensino Médio também procurou indicar um caminho para o trabalho
interdisciplinar, organizando os conteúdos escolares em três grandes blocos que
são:
·
"Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias";
·
"Ciências
da Natureza, Matemática e suas Tecnologias";
·
"Ciências
Humanas e suas Tecnologias".
"Propôs-se,
numa primeira abordagem, a reorganização curricular em áreas de conhecimento,
com o objetivo de facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de
interdisciplinaridade
e contextualização".
Texto original: Vinicius Signoreli
Para deixarmos
de lado a educação baseada na formação de modelos, memorizações, e fragmentação
do conhecimento, foi elaborada a reorganização curricular com o objetivo de
desenvolver os conteúdos, utilizando a interdisciplinaridade e a
contextualização.
Conforme a LDB
nº 9394 / 96, a organização do currículo superou as disciplinas estanques.
Pretende integração e articulação dos conhecimentos num processo permanente de
interdisciplinaridade e contextualização.
A
interdisciplinaridade ao saber útil. Utiliza conhecimentos de várias
disciplinas para a compreensão de uma situação problema. É uma integração de
saberes. Num texto de ciências, por exemplo, além do conhecimento específico da
matéria, o aluno pode aprender gramática, elaborar problemas relativos ao texto
e muito mais.
A
contextualização do conteúdo traz importância ao cotidiano do aluno, mostra que
aquilo que se aprende, em sala de aula, tem aplicação prática em nossas vidas. A
contextualização permite ao aluno sentir que o saber não é apenas um acúmulo de
conhecimentos técnico-científicos, mas sim uma ferramenta que os prepara para
enfrentar o mundo, permitindo-lhe resolver situações até então desconhecidas.
A fragmentação,
a distância entre os conteúdos gera desinteresse por a aprendizagem não ser significativa..
Esta ocorre quando há relação entre o aluno e o que ele está aprendendo,
considerando-o como o centro da aprendizagem, sendo ativo.
O contexto dá
significado ao conteúdo e deve basear-se na vida social, nos fatos do cotidiano
e na convivência do aluno. Isto porque o aluno vive num mundo regido pela
natureza, pelas relações sociais estando exposto à informação e a vários tipos
de comunicação Portando, o cotidiano, o ambiente físico e social devem fazer a
ponte entre o que se vive e o que se aprende na escola.
Aproveitando-se
do conhecimento prévio do aluno, o professor deverá planejar
"induções", fazendo com que o conceito a ser aprendido parta do
próprio aluno.
Vejamos, por exemplo, o
caso de um professor de história. Deverá selecionar do conteúdo os fatos,
conceitos, época, usos e costumes que o conteúdo exige. Deverá elaborar
perguntas, que partam do cotidiano, induzindo os alunos a fazerem comparações
até chegar onde pretende. Através das respostas dos alunos, será
elaborado um texto. Através de outras induções planejadas pelo professor esse
texto dará origem a outros textos, como por exemplo, de geografia. Por exemplo:
-Onde ocorreram tais fatos? Diferenciar os conceitos, usos , costumes entre as regiões
do planeta.
Nesse mesmo
texto a gramática deverá ser inserida e a obtenção de dados para elaborar
problemas. Em educação artística o campo será amplo a ser explorado.
O mundo
globalizado exigiu mudanças na educação, consequentemente exige que o professor
seja atualizado, criativo, orientador e facilitador da aprendizagem.
Referência
bibliográfica:
BRASIL.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília;
MEC/SEF, 1997.
______. Lei Nº
9394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília, 1997.
GIROUX, Henry
A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia
crítica da aprendizagem. Tradução de Daniel Bueno. Porto Alegre: Artes Médicas,
1997.
SAVIANI,
Dermeval. Escola e democracia. 29. Ed., Campinas, S.P: Autores
Associados, 2002
TARDIF,
Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2002
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