quarta-feira, 21 de março de 2012

Vidas secas

Vidas secas








Análise elaborada por Profª Edna Silva Polese Prof. Allan Valenza da Silveira 

A obra Publicado em 1938, Vidas secas, de Graciliano Ramos, narra a história de uma família sertaneja fugindo da seca — tema comum na época, em que o chamado Romance de 30 estava em voga e a temática sobre o espaço nordestino era constante nas obras. São bastante conhecidos romances como O quinze, de Rachel de Queiroz, e praticamente toda a obra de José Lins do Rego, destacando-se Menino de engenho. Essas narrativas foram construídas a partir da perspectiva realista, apresentando o contraste entre o homem e o meio e as mudanças inexoráveis a que ambos estão sujeitos. Obras como Luzia Homem, de Domingos Olímpio, e A normalista, de Adolfo Caminha, apresentam temas semelhantes, porém, construídos a partir da perspectiva naturalista. O enredo de Vidas secas é bastante simples: a família sertaneja composta por Fabiano, sinha Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e Baleia, a cachorra, segue viagem em pleno Sertão fugindo da seca. Chegam a uma casa abandonada, resolvem ficar no local e passam a trabalhar para o dono das terras. Segue-se um breve tempo de prosperidade e seu cotidiano normal: o convívio com a natureza, a vida em família, o contato com o pequeno arraial, a submissão aos poderosos — representados pelo dono da fazenda e pela força policial — e a presença da incerteza do futuro. Ao final da narrativa, novamente sujeita aos efeitos da seca, a família põe-se à procura de uma nova condição de vida. Graciliano Ramos Enciclopédia Delta O enfoque narrativo apresentado pelo autor descortina a mentalidade de seres broncos, que mais se assemelham a bichos do que à gente. A comunicação entre os personagens é quase impossível, assim como a expressão de seus sentimentos e reflexões. É nesse sentido que Graciliano Ramos contribui, apresentando uma sondagem individual dos personagens, que tentam se ajustar e compreender o mundo que os cerca. Antonio Candido, conhecido crítico brasileiro, observa que a forma como a obra foi organizada intensifica o objetivo do escritor. Ele classifica Vidas secas como um romance desmontável, ou seja, partes do texto podem ser lidas sem prejuízos às demais, não importando, em certa medida, o fio da narrativa que os une. A técnica literária utilizada por Graciliano para o romance está ligada à situação da publicação: os capítulos foram escritos e publicados em forma de contos em jornais de época, de modo que, ao reuni-los em um único volume, o autor não procurou articulá-los de maneira mais “macia”, como observa Antonio Candido. A isso uniu-se a idéia de rusticidade que acompanha personagens e narrativa. Também o crítico Massaud Moisés contribuiu para a análise da obra de Graciliano Ramos observando que Vidas secas, por ser formada de pequenos quadros, filia-se ao estilo da novela e, ao apresentar uma estrutura que se aproxima da vida cotidiana, portanto, pode ser avaliada por mais de um ângulo, por conta da situação de aparente independência dos capítulos. O romance foi transformado em filme no ano de 1963, sob direção de Nelson Pereira dos Santos. Único filme brasileiro indicado ao prêmio British Film Institute, Vidas secas também foi premiado em Cannes, em 1964.

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